domingo, 4 de novembro de 2012

ORIGEM DA ERVA-MATE





ORIGEM DA ERVA-MATE



Pesquisas realizadas em documentos no Paraguay concluímos que a origem do uso da Ilex paraguariensis ou erva-mate provém de comunidades indígenas Guaranis que a denominavam MATE-CAA, cujo vocábulo CAA em guarani vem a significa PLANTA ou ERVA, enquanto o vocábulo  MATE,  derivado do Quechua MATI, que significa CUIA, com o qual eles denominam a cabaça ou guampeta (cuia para os brasileiros) que geralmente é usada para beber, ficou perdida ao longo do tempo.



Sabe-se que o consumo de erva-mate, a Ilex paraguariensis, na colônia espanhola onde habitavam na área dos guaranis, região atual das províncias argentinas de Misiones, Corrientes central norte, a leste do Paraguai, desde o rio Paraguai, regiões vizinhas do Brasil para o resto do Vice-Reino do Rio da Prata, no século XVI. Essa expansão deu-se tanto entre os colonizadores espanhóis quanto entre os grupos indígenas Guaranis.



Antes da chegada dos espanhóis o povo Guarani, indígenas da área natural da planta, eram conhecidos por serem consumidores da erva-mate em seu dia a dia e até mesmo para fins medicinais. Arqueólogos encontraram em um túmulo Quechua próximo de Lima no Peru fragmentos de erva-mate, o que indica um prestigio da múmia no ritual fúnebre.



O conflito entre os colonos antigos e povos Maracayú coincidiu com a difusão do consumo de erva-mate fora da colônia do Paraguai, primeiro centro comercial do Rio da Prata e posteriormente no Alto Peru (atual Bolívia), Baixa Peru e Chile. Com o tempo a erva-mate passou se tornar um produto importante em muitas cidades coloniais da América do Sul. Durante o século XVII, a erva-mate ajudou arrecadar impostos e se tornou uma importante fonte de renda no Paraguai, Santa Fé e Buenos Aires, onde foi cobrado grande percentual de impostos pela Coroa espanhola. Alguns dos impostos foram o dízimo para os Jesuítas, o imposto sobre as vendas e impostos municipais das cidades por onde o produto passava. No ano de 1680 a Coroa espanhola impôs um imposto especial sobre erva-mate, para financiar obras de defesa de Buenos Aires e sua guarnição.



A mudança em direção ao Sul da produção de Villarrica (Vila Rica) e Asunción (Assunção) foram perdendo sua posição como portas únicas de exportação para as cidades de Santa Fé e Buenos Aires. Quando a produção passou a ser feita em transporte Maracayú descendo o rio Paraná, com grande dificuldade, a carga foi transferida para Jejuy pelo rio Paraguai até  Assunção, pois era navegável por todo o caminho para o Rio de da Prata. O governo local em Assunção tentou, embora sem sucesso, passar pelo norte através do rio até a região de Tebicuary, cidade da Coroa espanhola e Villarrica.



Os primeiros europeus estabelecidos na terra dos Guaranis, do mate, foram os espanhóis, os quais fundaram a bela Assunção no ano de 1537. A nova colônia foi desenvolvendo-se com pequeno comércio e pouco contato com o exterior, os espanhóis estabeleciam contactos fluidos para relações de trabalho com as tribos locais na forma de mita e encomienda. Não está claro exatamente quando os espanhóis começaram a utilizar o terere em seu dia a dia, mas sabe-se que a partir do século XVI o consumo era bastante grande.
Há registros que datam do ano de 1596 onde mostra que o consumo do mate como uma bebida cotidiana bastante comum no Paraguai que um membro do conselho de Assunção, escreveu ao governador do Rio da Prata Hernando Arias de Saavedra: "_O vício e mau hábito de beber mate é tão difundido entre os espanhóis, suas esposas e filhos, ao contrário dos índios que se contentam em beber uma vez por dia tomados de forma contínua e aqueles que não bebem são muito raros."



O mesmo autor da carta passou a afirmar que os colonos vendem suas roupas, armas e cavalos e se endividam para obter o mate companheiro de todas as horas.



No início do século XVII, a erva-mate tornou-se o principal produto de exportação do território Guarani, sobre o açúcar, o vinho e rapé que havia dominado anteriormente. O governador do Rio da Prata, Hernando Arias de Saavedra, opôs-se no início do século XVII ao desenvolvimento da indústria dp mate, considerando sua utilização como um mau hábito, um vício insalubre, e que grande parte da mão de obra indígena foi consumido o tereré durante suas tarefas. Hernando Arias de Saavedra ordenou o fim da produção do Governatorato do Rio da Prata, e procurando a aprovação da coroa espanhola, por suas ações, mas ela rejeitou a proibição pois via nela uma importante fonte de lucros, e assim fizeram os colonos envolvidos na produção continuarem seus plantios e colheita, os quais nunca conheceram a ordem de proibição.



Ao contrário de outras espécies ricas em alcalóides encontrados pelos europeus na Era dos Descobrimentos como cacau e café, a erva-mate não era uma espécie domesticada e veio a ser explorada a partir de estandes selvagens até o século XIX, embora os Jesuítas tenham iniciado a domesticação da erva-mate pela primeira vez em meados do século XVII.



Até o ano de 1676, durante o auge da indústria, a principal produção da companheira era Maracayú indiano aldeia a nordeste de Assunção. Em meio a Maracayú ricas florestas mate eram encontradas, os colonos de Assunção dominavam a rica produção. Maracayú no entanto veio a ser o lugar de um longo conflito quando os colonos dos municípios de Vila Rica e Espírito Ciudad Real de Guayrá começaram a moverem-se para a área de Maracayú onde os povos indígenas antigos viam como seu território.



Durante o domínio espanhol a colheita de plantas silvestres era realizada por meio do trabalho indígena. O consumo companheiro, em círculo, espalhou-se durante o século XVII, tornando-se comum na região do Rio de la Plata e expandindo-se até o Chile e Peru. O amplo consumo de erva-mate tornou-se o principal produto no Paraguai sobre outros produtos da época como rapé, a extração de madeira e outros.


Não há dúvida de que os indígenas tomavam o mate frio por meio bulbos ou bombilhas (bombillas) minúsculas feitas de junco ou madeira santa (palo santo, a qual ainda é esculpida e utilizada por todo o Paraguay e parte da Argentina), uma árvore nativa ainda no Paraguai com um aroma suave. Os conquistadores espanhóis com o tempo adquiriram este precioso hábito.



Atribuído Ruiz Diaz de Guzman, em sua história escrita por volta do ano de 1612 por Hernando Arias de Saavedra. Referente a preciosa descoberta do uso das folhas de erva-mate durante o ano de 1592. Isso teria sido na GUAYACAS  ( pequenos sacos feitos em couro, no qual os índios carregavam seu bem mais precioso, a erva mate). Envolto em pele, fina e lisa, um pó produzido ao pilar galhos e folhas de erva-mate secas pra uma espécie de chá, o TERERE, produzido com água fria que acabou por ser denominado CAA.



Em 1630, ocorreu um conflito que se agravou devido os moradores de Villa Rica e Ciudad Real e Missões Jesuíticas do Guairá fugirem da área de Maracayú por ocasião do ataque de colonos portugueses oriundos da cidade brasileira de São Paulo. Maracayú era uma área importante economicamente devido o cultivo de mate, a qual era sua principal fonte de renda, o que causou um conflito com os colonos de Assunção. O conflito só terminou no ano de 1676, quando as hostilidades portuguesas cometidas contra os colonos de Maracayú transformou a região em uma área de fronteira exposta. Os moradores de Maracaýu moveram-se para o sul, formando a moderna cidade de Villarrica e transformaram suas novas terras no novo centro da indústria mate.



As propriedades terapêuticas atribuídas a erva, em numerosos relatos da época colonial, fez o seu consumo se espalhar de forma bastante rápida ao ponto de os espanhóis organizarem um tráfego deste produto regular e intensamente a partir de sua área de origem para o vice-reinado. Mais  tarde foram os jesuítas residentes no Paraguai no início do século XVII nas municipalidades criadas em aldeias guaranis e em missões, nestas regiões introduziram o cultivo em algumas áreas desmatadas destas muicipalidades distribuídas na região da província de Misiones, Corrientes e parte do Paraguai.



Em meados do século XVII, os jesuítas conseguiram domesticar a planta e estabeleceram plantações em reduções indígenas em Misiones (Paraguai), nordeste da Argentina e áreas do Brasil onde apenas era praticado o extrativismo de plantas selvagens.



Com a expulsão dos jesuítas no ano de 1770, as plantações conhecidas por yerbales começaram a declinar, pois os segredos jesuítas de domesticação se foram com eles.



Foi com a expulsão dos jesuítas que ocorreu por volta de 1769 o declínio deste comércio lucrativo de erva-mate. Mesmo  reduzindo sua população nas missões os guaranis não abandonaram o uso do terereé, visível no Paraguay, Argentina e Urugay ainda hoje, mas perderam parte de sua tradição ritualísticas durante a catequização aculturação ocidental implantada durante a presença dos jesuítas.



Meio século mais tarde, o famoso médico e naturalista francês Aimé Goujaud, conhecido como Bonpland, introduziu os primeiros estudos científicos a respeito das propriedades científicas referentes a erva-mate, seu cultivo, desenvolvimento, produtividade por hectare, propriedades terapêuticas, uso e outros. Com o mesmo objetivo, no ano de 1820 ou 1821 visitou o Paraguai, onde pediu permissão para visitar alguns yerbales, mas  temendo que seus estudos viessem a colocar em risco o monopólio exercido pela companhia comercial espanhola no Paraguai, foi preso e confinado dentro do país.



A indústria de erva-mate continuou a ser de supra importância para a economia paraguaia após sua independência, mas o desenvolvimento em benefício do Estado paraguaio foi interrompido após a Guerra da Tríplice Aliança que ocorreu entre os anos de 1864 a 1870, devastando o país economicamente e demograficamente. Nesta época o Brasil passou a ser o primeiro produtor de erva-mate.



Frederico Neumann dirigiu-se à municipalidade de Colônia onde viviam comunidades menonitas, (Nova Alemanha, no Paraguai), assim após muitos anos de tentativas em cultivar sementes da erva-mate teve muitos fracassos, porém finalmente após alguns anos conseguiu a germinação de sementes de erva-mate as margens do rio Aguaray Guazú. Isso deu-se no ano de 1896, ganhando o primeiro lote de cultivo da erva em 1901, depois  do esplendor do período jesuítico.


Em 1903 surgiu a primeira plantação racional e de importância, na municipalidade de San Ignacio, Misiones, precisamente na região onde ainda existem ruínas ​​jesuíticas.


Depois de muito ensaio e erro inicial por meio de técnicas de cultivo, a partir do ano de 1911 inicia-se a expansão do cultivo da erva com sucesso. Isso se deu pelo encorajamento efetivado pala concessão de terras públicas. Condicionada à obrigação de plantar nas haciendas, como era a extensão da propriedade, de 20 a 75% da superfície com o cultivo da erva-mate a qual foi  crescendo rapidamente e expande-se, vindo a  atingir em 1935 uma área de cerca de 66.000 hectares sancionadas parar sua expansão pela Lei 12.236 que, a fim de ajustar o volume de produção de oportunidades de colocação no mercado interno, aos poucos foi proibida a construção de novas plantações, isso se deu para estabelecer uma taxa de quatro dólares para cada unidade nova que viesse a ser produzida no Yerbal.



Em projetos brasileiros e argentinos do século XIX e do século XX, a planta foi domesticado, mais uma vez, graças aos estudos iniciais do franco-argentino que desenvolveu um novo método para fazer a germinação em escala industrial abrindo assim o caminho para sistemas de plantações modernas. Quando os empresários brasileiros voltaram sua atenção para o café na década de 1930, a Argentina, a qual tinha sido o principal consumidor, também tornou-se o maior produtor, alimentando a economia da Província de Misiones, onde os jesuítas tiveram uma vez mais suas plantações.



Anos mais tarde, 1953, com o aparente declínio da plantação, foi oficialmente autorizada a extensão do cultivo por meio de incentivo do governo, livre de impostos a cada 35.000 hectares, dos quais apenas cerca de 18.000 foram plantadas.



Assim, no final do ano de 1957 foi lançado que desde que a lei fiscal em geral e sem discriminação, a expansão de culturas existentes para uma área de 15 hectares e fazendo novas áreas, os  yerbales, os quais são importantes para o desenvolvimento de muitas municipalidades até os dias de hoje teriam impostos reduzidos.



Atualmente estima-se em cerca de 130.000 a 140.000 hectares de área cultivada destinam-se a produtividade yerbales, distribuídos entre cerca de 14.000 produtores.



Ficha da Erva-Mate:



Nome científico: ilex paraguariensis St. Hilaire



Nomes Populares: Erva-Mate, Erva-Chimarrão, Cá-do-brasil, Erveira, congonha, erva, erva-verdadeira, erva-congonha



Formas de consumo: na Região sul a bebida é bem concentrada, recebe água vervente, denominndo-se chimarrão. No Sudeste serve-se gelado com gelo e limão; no Centro-oeste seu nome é Tereré, versão tropical do chimarrão. No Paraguai,Uruguai e Argentina é bebido com água gelada, porém há uma variação bastante grande no sabor,e de riquíssima qualidade.



Origem: América do Sul. Sendo encontrada em Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio Grande do Sul, em matas de altitude de aproximadamente de 400 a 800 metros de altitude, sendo particularmente frequente nas chamadas matas de pinhais dos estados do Sul, tendo como centro de distribuição na região norte de Santa Catarina. Encontra-se também no Paraguai e na Argentina onde é uma bebida utilizada no cotidiano.



Características: Seu caule de coloração acinzentada chega a medir 30 centímetros de diâmetro. O porte é bastante variável, dependendo da idade pode chegar a atingir 12 metros de altura, porém quando podada a erva não passa dos 4 ou 8 metros de altura, dotada de tronco curto de cerca de 30 cm de diâmetro e copa mais ou menos densa e perenifólia. Devido ao hábito de efetuar sua poda com objetivo de colher as folhas para o preparo do chá-mate, é muito difícil mesmo no habitat natural ver-se algum exemplar com sua copa natural. Suas folhas são simples e coriáceas, quase totalmente desprovidas de pelos, de 8 a 10 centímetros de comprimento por 3 a 4 centímetros de largura. Possui flores pequenas de cor esbranquiçadas e suavemente perfumadas. Frutos globosos de cerca de 0,5 centímetros de diâmetro, de cor vermelho-vinácea contendo 1 a 4 sementes.



Utilidade: apesar de possuir madeira branca de boa resistência, sua principal utilidade está em suas folhas amplamente utilizadas no preparo do chá-mate e do chimarrão, muito consumidos no Sul do Brasil e apreciado pelos indígenas da região há séculos. O mate já é conhecido e consumido hoje em todo o país e em quase todo o mundo. A maior parte da produção de folhas consumida e no país e exportada ainda é de origem extrativista, contudo já existe alguma produção de plantas cultivadas no sul do país. Além do chá tradicional, é comercializado no país formas solúveis do mate, além da bebida pronta e engarrafada. As folhas do mate são utilizadas também na medicina tradicional, tanto no país como no exterior.



Informações ecológicas: Planta perenifólia, esciófita, seletiva higrófita, característica e preferente das matas de pinhais. Geralmente chega formar capões homogêneos. É naturalmente disseminada por pássaros.
Partes utilizadas: Folhas



Obtenção de sementes - Os frutos devem ser colhidos diretamente da árvore quando iniciarem a queda espontânea. Em seguida deixá-los amontoados por alguns dias para iniciar a decomposição da polpa e facilitar a remoção das sementes. Isso é obtido manualmente lavando-se os frutos em água corrente dentro de uma peneira fina e, deixando-se as sementes secarem à sombra. Um quilo de sementes contém aproximadamente 90.000 unidades.



Produção de mudas - As sementes devem ser submetidas a um tratamento de estratificação antes da semeadura para aumentar a taxa de germinação; consiste em mantê-las durante 4 a 7 meses em meio úmido como terra de plantio, visando completar sua maturação fisiológica. Após esse período podem ser semeadas em canteiros sombreados contendo substrato organo-argiloso; a emergência ocorre em poucos dias. Pode-se também semear diretamente os frutos como se fossem sementes sem estratificação, com a emergência demorando 4 a 5 meses. Em ambos os casos, as mudas demoram 10 a 11 meses para ficarem prontas para o plantio no campo. O desenvolvimento das plantas no campo é bastante lento.



Fenologia – A Erva-Mate floresce durante os meses de outubro-dezembro. Os frutos amadurecem em janeiro-março.



Dados:

Pesquisas realizadas no ano de 2003 por meio de transcrição de textos publicados pelo MARA [Minist. da Agr. da Rep. de la  Arg.] datado de junho de 1971 do Comité para la Propagación de el consumo de la yrba-mate. Revistas e livros encontrados na UAA e UTIC em Asunción, Paraguay para a disciplina de Antropologia Cultural.

















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